STJD demora, CBF e Flamengo adotam o silêncio, e Bruno Henrique segue atuando: o escárnio da falta de ética no futebol brasileiro
Desde a deflagração da Operação Penalidade Máxima, em 2023, o futebol brasileiro tem se deparado com revelações estarrecedoras sobre o envolvimento de jogadores em esquemas de manipulação de resultados e apostas esportivas. A cada novo nome envolvido, a credibilidade dos campeonatos nacionais sofre mais um golpe. Agora, com o indiciamento de Bruno Henrique — atacante do Flamengo — a crise atinge um novo patamar, a passividade das instituições envolvidas.
O caso Bruno Henrique, indiciado pela Polícia Federal por violação do artigo 200 da Lei Geral do Esporte, além de estelionato, sobre cai acusações gravíssimas: fraude esportiva, manipulação de resultado e envolvimento direto com apostadores. Não se trata de suspeita infundada, mas de um indiciamento formal, com base em provas colhidas por meio de técnicas investigativas como quebras de sigilo e extrações de conversas.
Diante disso, causa profunda estranheza o silêncio e a inércia do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que até agora não abriu sequer um inquérito para apurar o caso. A Procuradoria diz que solicitou o relatório da Polícia Federal, mas a demora no início das investigações contrasta com a celeridade com que outros atletas, muitos de menor expressão midiática, foram julgados e punidos com suspensões longas e até banimentos.
A pergunta que se impõe é incômoda, porém necessária: há pesos e medidas diferentes a depender do clube envolvido? Quando o jogador em questão veste a camisa de um dos clubes mais poderosos e midiáticos do país, as instituições de fiscalização esportiva hesitam. O que seria de um atleta do Sampaio Corrêa ou do Operário-PR com um indiciamento dessa magnitude? A resposta já conhecemos: suspensão imediata e processo célere. Mas quando o nome é Bruno Henrique e o escudo é o do Flamengo, tudo muda.
A própria postura do clube carioca reforça esse teatro de conivência. Mesmo diante de um indiciamento formal, o Flamengo não apenas mantém Bruno Henrique a disposição para atuar, como também evita qualquer declaração mais incisiva sobre o episódio. É como se o clube tentasse empurrar o caso para debaixo do tapete, confiando que a pressão sobre as instituições seja suficiente para desmobilizar qualquer tentativa de apuração profunda.
O Flamengo, como uma das principais vitrines do futebol nacional, deveria ser o primeiro a zelar pela lisura da competição e pela transparência. Mas faz justamente o contrário: acoberta o jogador e finge normalidade, como se a reputação da instituição não estivesse diretamente atrelada ao comportamento de seus atletas. A mensagem que fica é lamentável: se for um craque e jogar num time grande, a impunidade é possível.
A CBF – Confederação Brasileira de Futebol, por sua vez, se cala. Mesmo após ter sido notificada pela International Betting Integrity Association (IBIA) sobre as movimentações suspeitas, mesmo após ter encaminhado a denúncia à Polícia Federal, segue como se sua função fosse apenas a de arquivar ofícios, quando deveria liderar o combate à corrupção nas quatro linhas, reforça o clima de terra sem lei, que para muitos deve ser a condução nos bastidores do futebol brasileiro.
Como poder moderador, o STJD, também deve explicações à sociedade. Afinal, a manipulação de resultados não é apenas uma infração esportiva: é um atentado à essência da competição. E ao retardar ou ignorar investigações, o tribunal se torna omisso aos fatos. Não basta alegar que precisa aguardar documentos da Polícia Federal. O que se espera da Justiça Desportiva é iniciativa, firmeza e compromisso com a verdade.
O futebol brasileiro não pode continuar a conviver com essa cultura de tolerância seletiva. A integridade do esporte exige coragem institucional — algo que, até aqui, CBF, Flamengo e STJD se recusaram a demonstrar.