População espera até duas horas por ônibus em Camaçari, enquanto promessa de frota elétrica e tarifa gratuita segue no papel
Moradores de Camaçari têm enfrentado uma rotina de incertezas e frustração nos pontos de ônibus. Em diversos bairros da cidade, principalmente da orla, passageiros aguardam por até duas horas para embarcar em um coletivo. A crise no transporte público, que se arrasta há anos, se aprofundou mesmo após promessas de renovação e modernização feitas durante a campanha eleitoral de 2024. A realidade atual contrasta com o discurso otimista apresentado pelo então candidato Luiz Caetano, que havia prometido um sistema com ônibus elétricos, tarifa zero e mais eficiência para os usuários do município.
Em declarações públicas, chegou a garantir que o município assumiria a gestão do serviço e que, com a frota elétrica, os custos de operação seriam reduzidos a ponto de viabilizar a gratuidade para os passageiros. “A prefeitura vai assumir o transporte público. Eu tenho condições de assumir. E quando eu boto ônibus elétrico, eu baixo o custo do transporte público”, declarou na época. Além da gratuidade, o então candidato também prometeu um aplicativo para acompanhamento da frota em tempo real, o que até agora também não se concretizou.
No entanto, o cenário encontrado no início de 2025 mostra que as promessas ficaram apenas no discurso. A atual gestão se viu obrigada a adotar medidas emergenciais para garantir o funcionamento mínimo do sistema. Com a aprovação de um projeto de lei pela Câmara Municipal, a prefeitura iniciou a contratação de empresas em caráter temporário para operar o serviço. O acordo emergencial prevê a circulação de 45 veículos em 27 linhas, com subsídio mensal que pode chegar a R$ 4 milhões dos cofres públicos. O contrato tem validade de seis meses, com possibilidade de prorrogação por igual período, enquanto uma licitação definitiva é elaborada.
Mesmo com os subsídios milionários, as reclamações de usuários se intensificaram. Linhas desaparecem dos bairros, horários não são cumpridos e a frota disponível não é suficiente para atender à demanda da cidade. Trabalhadores relatam que chegam atrasados ao emprego e estudantes acumulam faltas por falta de transporte. Para muitos, a promessa de ônibus gratuitos e pontuais soa agora como uma ilusão de campanha.
A gestão anterior, comandada por Elinaldo Araújo, também foi alvo de críticas por não enfrentar o colapso do sistema de forma estruturada. Sob sua administração, o contrato com a empresa responsável pelo transporte foi encerrado, mas não houve planejamento eficaz para garantir uma transição organizada. Ainda assim, pesa sobre a atual gestão o ônus de ter alimentado expectativas altas sem apresentar soluções concretas e imediatas. A população, que esperava avanços, segue convivendo com a precariedade.
A crise do transporte público em Camaçari não é apenas um reflexo da ineficiência administrativa, mas um retrato de como promessas políticas, quando não sustentadas por planejamento técnico e compromisso real, se tornam combustível para a indignação popular. A cidade, que deveria ser exemplo de inovação com tarifa zero e frota elétrica, vive um cotidiano marcado pela espera, insegurança e frustração nas paradas de ônibus. E enquanto o tempo passa para quem espera por transporte, a paciência da população também tem prazo de validade.