Mais de uma década após incêndio, prédio do Instituto do Cacau segue abandonado na capital baiana
Inaugurado em 1930 e tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), o edifício do antigo Instituto do Cacau, no bairro do Comércio, em Salvador, já foi simbolo de força da economia cacaueira na Bahia. Hoje, representa o descaso com a preservação do patrimônio público que já se passaram mais de uma década de abandono.
Atrás de vidraçarias quebradas, encontra-se mobiliário destruído, papéis e livros espalhados pelo chão — vestígios do tempo e da negligência. A situação atual do prédio foi registrada em março pelo bancário aposentado e pesquisador Marcos Rebouças.
“Tinha um compromisso ali na região e cheguei um pouco mais cedo. Ao passar pelo Instituto, vi os vidros quebrados, muita coisa espalhada. Me lembrei que, naqueles livros, devia haver muita informação importante sobre a história do cacau. A porta estava caída. Foi chocante”, relatou.
O edifício foi parcialmente destruído por um incêndio em 2012. Menos de um ano antes, em novembro de 2011, outra ocorrência já havia atingido uma sala de arquivos. Desde então, embora um posto do SAC ainda funcione no térreo, o prédio nunca mais foi plenamente reativado. Em 2018, a Secretaria da Administração do Estado (Saeb) chegou a anunciar obras de recuperação estrutural, mas nenhuma intervenção de fato aconteceu.
Rebouças, que trabalhou por 13 anos em um banco nas proximidades, lembra com saudosismo do espaço. “Nos anos 1990, entrei no museu do Instituto. Tinha uma porta giratória muito bonita. Lá dentro, peças contavam a história do cacau: sementes, ferramentas, documentos. Era um acervo riquíssimo”, contou. “Ver aquilo hoje dá tristeza. O auditório, que era uma estrutura de qualidade, está completamente degradado.”
O historiador Rafael Dantas destaca a importância do local. “O Instituto do Cacau surgiu como resposta à relevância econômica do cacau na Bahia durante o século 20. Ele reunia dados geográficos, administrativos e agrícolas, além de um acervo histórico valioso sobre o ciclo do cacau”, explicou. Segundo ele, parte dessa documentação integrava o museu mantido no local, mas não se sabe se os arquivos foram transferidos, perdidos ou destruídos após os incêndios.
Desde então, o prédio segue subutilizado, sob um manto de incertezas — e é justamente essa incerteza que, como aponta o historiador, ameaça ainda mais o que resta da memória cacaueira baiana.
Fonte: Site Alô alô Bahia