Ele ressaltou que as conversas nesse sentido, com comandantes militares, foram mais no sentido de “desabafo”. O ex-presidente disse, no entanto, que a ideia não foi adiante.
“Não tinha clima, não tinha oportunidade, não tínhamos uma base minimamente sólida para se fazer qualquer coisa”, destacou.
O depoimento teve momentos descontraídos, assim como ocorreu com outros réus. O ex-presidente fez uma brincadeira e convidou Alexandre de Moraes para ser seu candidato a vice em 2026, arrancando risos da plateia e do próprio ministro do STF.
Moraes respondeu objetivamente: “Declino”.
O ex-presidente rechaçou a declaração dada pelo tenente-coronel Mauro Cid, delator da trama golpista, de que Jair Bolsonaro teria recebido uma minuta de golpe e a enxugado, mantendo o nome de Alexandre de Moraes entre as autoridades a serem presas. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro fez a declaração durante seu interrogatório, na segunda-feira (9/6).
“Não procede o enxugamento [da minuta]”, garante Bolsonaro.
Bolsonaro também negou participação em articulações golpistas e definiu a manifestação de 8 de janeiro de 2023, quando houve quebra-quebra na Praça dos Três Poderes, como “baderna”.
Veja os depoimentos de Bolsonaro e outros réus:
Pedido de desculpas
O ex-presidente Bolsonaro começou a ser ouvido por volta das 14h30, negando a Alexandre de Moraes que as acusações contra ele sejam verdadeiras.
Moraes começou o interrogatório questionando o movimento de descrédito às urnas e da reunião ministerial que tratou do tema, em julho de 2022.
Bolsonaro disse, entre outros pontos, que trabalhou muito pelo voto impresso na Câmara dos Deputados, quando ainda era parlamentar. E confirma que sempre defendeu esse ponto.
Ele reforçou sua retórica contra as urnas eletrônicas. Ao se referir a isso, o ex-presidente chegou a citar o atual ministro do STF Flávio Dino, da época que ele disputou as eleições de 2010 e foi derrotado no Maranhão. Ele diz que o próprio Dino colocou em dúvida as urnas eletrônicas.
Bolsonaro reclamou de ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dizendo que foi tolhido em seus direitos durante as eleições de 2022, a partir do momento que não pôde usar fatos e fotos negativos sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e fatos positivos em relação a ele mesmo, Bolsonaro.
Sobre a reunião em julho de 2022, na qual ele criticou a conduta de ministros do STF e do TSE, o próprio Moraes e Luis Roberto Barroso, Bolsonaro pediu desculpas. Ele disse que se tratava de um desabafo, apenas retórica do momento.
“Tanto é que era uma reunião para não ser gravada, um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fossem outros três ocupando [esses cargos], teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe. Não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta dos senhores”, disse.
Outros pontos
Bolsonaro também citou realizações de seu governo, dando um tom político. Falou sobre obras e sobre a carreira política, iniciada há décadas, como vereador no Rio de Janeiro.
O ex-presidente voltou a falar que sempre agiu “dentro das quatro linhas da Constituição” durante seu governo, tema recorrente em seus discursos.
Depois das perguntas de Alexandre de Moraes, Bolsonaro passou a ser questionado pelo ministro Luiz Fux, que também faz parte da Primeira Turma.
A Fux o ex-presidente negou que tenha recebido voz de prisão de algum militar.
Depois, Bolsonaro passou a responder ao procurador-geral da República, Paulo Gonet.
O procurador citou a questão de queda na popularidade com o possível aumento das críticas às urnas eletrônicas por parte de Bolsonaro. O ex-presidente afirma que os questionamentos ao sistema eletrônico começaram antes, com o ex-governador Leonel Brizola (já falecido) e com Flávio Dino.
Bolsonaro diz a Gonet que não fez qualquer movimento ou incentivou um levante da população para contestar o resultado das eleições. Ele, inclusive, chamou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 de “baderna”.
Gonet quis saber de Bolsonaro se um movimento para anular eleições e prender autoridades pode ser entendido como “agir dentro das quatro linhas da Constituição”. O ex-presidente disse que nunca houve pontapé inicial de uma tentativa de golpe. Diz que apenas foram “hipóteses” debatidas, inclusive com comandantes das Forças Armadas.
Bolsonaro ressaltou que as conversas nesse sentido, com comandantes militares, foram mais no sentido de “desabafo”.
Bolsonaro é um dos oito réus investigados por uma suposta trama de golpe de Estado no Brasil. Ele pertence ao núcleo 1, também chamado de núcleo crucial do caso, conforme denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR).