Eduardo Cunha revela que Jaques Wagner lhe ofereceu vantagens para barrar processo de impeachment da ex-presidente Dilma
Informações colhidas nesta sexta-feira (2/4), no site Bnews, expõe o relato do ex-deputado federal, e presidente da Câmara durante o processo de Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Eduardo Cunha afirmando que o hoje senador Jaques Wagner (PT) tentou blindar a ex-presidente do processo que a removeu do poder, oferecendo-lhe proteção no Conselho de Ética da Casa.
Segundo Cunha, na época, um pedido de cassação de mandato contra Cunha tramitava no colegiado. Após ser afastado da presidência do Legislativo, em junho de 2016, o conselho acabou aprovando parecer favorável à cassação – aproximadamente seis meses após o ex-parlamentar abrir o processo contra a petista, no final de 2015.
A revista Veja deste final de semana traz reportagem sobre o livro “Tchau, Querida — O Diário do Impeachment”, que será lançado em 17 de abril e conta os bastidores do processo de impedimento de Dilma pelo ponto de vista do então presidente da Câmara.
Na publicação, de acordo com a revista, Cunha conta que o empresário Joesley Batista, da JBS, abriu as portas de sua residência para que o ex-deputado se reunisse com Wagner, então ministro da Casa Civil, em Brasília. A conversa com o petista teria sido tensa. “Não iria sair na porrada física com ele, mas não estava certo de que aquilo acabaria bem”, escreve no livro.
Segundo Cunha, em outra ocasião, o então ministro de Estado lhe ofereceu algumas possibilidades para blindar Dilma, como proteção no Conselho de Ética e a chance de transformar o então vice-presidente Michel Temer em ministro da Justiça. Segundo Cunha, aquela não foi a primeira vez que algo assim acontecia.
O ex-parlamentar, que hoje vive em prisão domiciliar, diz que José Eduardo Cardozo, ex-Advogado-geral da União responsável pela defesa de Dilma no processo do Impeachment, já havia acenado com a chance dele indicar um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) na vaga que seria aberta com a aposentadoria do ex-decano Marco Aurélio Mello.
Em troca, Cunha seguraria a tramitação da chamada “PEC da Bengala”, projeto que acabou sendo aprovado, esticando até os 75 anos a idade de aposentadoria compulsória dos membros da corte. Marco Aurélio só veio a se aposentar no ano passado, abrindo a vaga que atualmente é ocupada pelo ministro Kássio Nunes Marques.
Se a PEC não tivesse emplacado, e Dilma tivesse chegado ao final do mandato, a petista poderia nomear cinco ministros em seu mandato. Cunha também sustenta que Cardozo – que segundo ele, era o membro do governo Dilma que ele mais odiava – interferia no trabalho da Polícia Federal com o objetivo de pressioná-lo.
A ojeriza por Cardozo chegou a tal ponto que, na tentativa do Planalto de conter o esgarçamento total das relações, Wagner passou a ser o interlocutor direto de Cunha, no lugar do ex-ministro da Justiça.
Contudo, as negociações não avançaram. “Wagner era só a troca da mosca; a merda continuava a mesma”, escreve Cunha. Procurado pela publicação, Cardozo nega as afirmações e rebateu Cunha.
“As críticas e acusações do senhor Cunha soam como um elogio para o meu currículo. Todos sabem o que ele é e o que fez”. Wagner, por sua vez, garante que foi Cunha quem buscou a chantagem, pedindo apoio do partido no Conselho de Ética para interromper o impeachment.