Economistas revisam projeção do PIB para 2022 após resultado melhor que o esperado no segundo trimestre
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do segundo trimestre surpreendeu positivamente, avançando 1,2% e vindo acima da média projetada pelo mercado. O setor de serviços confirmou sua importância para o crescimento econômico do período. O segmento avançou 1,3% no trimestre e deve continuar sendo o motor da economia até o final do ano, segundo analistas. Algumas casas já começam a revisar suas projeções para o PIB brasileiro no acumulado do ano após o resultado divulgado hoje.
É o caso do Goldman Sachs, que atualizou sua previsão de crescimento de 2,2% para 2,9%. O banco destaca que além do segundo trimestre melhor que o esperado, as taxas de crescimento do quarto trimestre de 2021 e do primeiro trimestre de 2022 também foram revisados para cima.
O BofA foi ainda mais otimista, elevando a projeção de 2,5% para 3,25%. O Banco acredita que medidas de estímulo e reduções nos preços dos combustíveis deve ter uma grande influência positiva nos resultados do segundo semestre. “O impacto de uma desaceleração global é um risco baixista para o período, assim como os efeitos da política monetária apertada”, ressalvam os analistas do BofA.
“Os analistas subestimaram bastante o impacto do setor de serviços na atividade”, admite o economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Após a divulgação do PIB do segundo trimestre, a RB Investimentos revisou sua projeção de crescimento econômico para 2022, do cenário base (+2%) para o cenário otimista (+2,5%).
“Observamos um crescimento especialmente relacionado à parte de transportes, muito em função nas mudanças de hábito de consumo da população. O e-commerce dinamiza essa parte, mas também tem o setor externo. Toda parte de transporte, armazenagem e frete internacional de commodities acaba sendo contabilizada em serviços”, explica Matheus Pizzani, economista da CM Capital. A casa também está revisando as estimativas de PIB de 2022 para cima, após o resultado divulgado hoje.
A melhora da atividade vem desde o início do ano e é explicada, sobretudo, pela reabertura da economia após o relaxamento das restrições da pandemia e a recuperação do mercado de trabalho. Outro aspecto favorável são os benefícios fiscais, como a liberação de saques extraordinários do FGTS e a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas. Programas de transferência de renda como o Auxílio Brasil e o voucher para caminhoneiros prometem seguir dando fôlego à economia na segunda metade do ano.
“O número [do segundo trimestre] foi bastante forte, robusto, mostrando que boa parte da atividade econômica está sendo gerada no Brasil. É o que chamamos de absorção interna, tiramos os componentes externos”, afirma Victor Candido, economista chefe da RPS Capital. “O setor externo não foi destaque, importações cresceram [7,6%] e as exportações diminuíram [-2,5%].”
A absorção doméstica amentou 2,4% na comparação trimestral, depois de recuar 0,3% entre janeiro e março deste ano.
Pelo lado da demanda, um dos destaques foi o consumo das famílias, que avançou 2,6%. “Isso acontece pela retomada do emprego, que apesar de ter um rendimento médio real por trabalhador ainda baixo, fez com que a massa salarial subisse na esteira de mais gente trabalhando”, explica André Perfeito, economista-chefe da Necton. Apesar do resultado bom, a casa ainda não revisou suas projeções para o PIB de 2022. “Vamos olhar em detalhe outros componentes como o setor externo, que recuou com a alta expressiva de importações e queda nas exportações”.
Expectativas para o PIB nos próximos trimestres
“Resta agora saber como será a segunda metade do ano, em que se espera uma desaceleração vinda dos efeitos da política monetária”, afirma Luca Mercadante, economista da Rio Bravo. Com o resultado de hoje, a casa deve revisar as projeções para o PIB de 2022 a um patamar próximo dos 2,5%, ante 2% esperados anteriormente.
Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, afirma que além de superar expectativas, o PIB do segundo trimestre traz um horizonte positivo para o decorrer do ano. “Consumo das famílias e investimentos subindo, absorção doméstica, é uma composição muito positiva que traz boas perspectivas”, explica. O banco prevê um crescimento de magnitude semelhante para a economia brasileira no terceiro trimestre (de 1%) e também está revisando projeções para o PIB fechado de 2022.
“Para o segundo semestre, a perspectiva é de um arrefecimento da atividade diante dos efeitos da elevação dos juros e da alta inflação. Porém, a dinâmica do mercado de trabalho, reduções tributárias sobre itens importantes (combustíveis e energia) e os novos incentivos fiscais, como a PEC dos Auxílios, darão um novo fôlego”, afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
“Continuamos a esperar desaceleração da atividade doméstica no semestre corrente. No entanto, a recuperação firme das condições do mercado de trabalho combinada a estímulos fiscais de curto prazo devem permitir um arrefecimento econômico suave”, escreveu Rodolfo Margato, economista da XP.
A expectativa da casa para o crescimento do PIB em 2022, atualmente em 2,2%, tem viés de alta. “Por fim, também atribuímos um viés positivo à previsão de aumento de 0,5% para o PIB de 2023, a despeito da política monetária em território amplamente contracionista e o enfraquecimento da economia global”, diz Margato.
O Itaú manteve a projeção de que a economia vai se manter relativamente estável até o final do ano. A projeção do banco é de alta de 0,1% no PIB do terceiro trimestre e de contração de 0,1% no quarto. “O estímulo fiscal provavelmente será compensado pelos efeitos da política monetária contracionistas e pela desaceleração da atividade global”, escreveram os analistas. No entanto, o banco também colocou um viés de alta para o projeção do PIB de 2022, atualmente em 2,2%.
Por InfoMoney