Bruno Henrique presta depoimento ao SJTD no lento processo que investiga o jogador por manipulação de apostas
Em meio a um dos maiores escândalos do futebol brasileiro dos últimos anos, o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, finalmente prestou depoimento ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), nesta quinta-feira (29). O jogador é investigado por supostamente ter forçado um cartão amarelo em 2023, ação que teria beneficiado apostadores, levantado suspeitas de manipulação de resultados — uma grave afronta à integridade esportiva nacional.
Convocado na semana passada junto a outras testemunhas, Bruno Henrique havia pedido o adiamento da audiência marcada para segunda-feira, alegando conflito de horários com o treinamento no Ninho do Urubu. A justificativa, embora técnica, soa como desprezo à gravidade da acusação: fraude esportiva, escrito no artigo 200 da nova Lei Geral do Esporte, com pena de até seis anos de prisão. Se a acusação de estelionato, ele pode levar até cinco anos de reclusão.
Mesmo diante da suspeita séria, embasada por provas colhidas pela Polícia Federal, o atacante segue atuando normalmente pelo Flamengo. Pior: o caso é tratado com indiferença por parte da imprensa esportiva, que dedica pouco espaço ao tema, como se fosse apenas mais uma polêmica passageira. A blindagem midiática, somada à leniência institucional, reforça a sensação de que existe um abismo entre o rigor da lei e a realidade do futebol profissional.
O depoimento de Bruno Henrique ocorreu de forma remota, aproveitando o dia de folga do atleta. Agora, o STJD finalizará um relatório com base nas provas e decidirá se apresenta denúncia formal ou arquiva o caso — decisão que poderá, mais uma vez, mostrar se o futebol brasileiro está disposto a combater a manipulação de resultados com a seriedade que o assunto exige.
A defesa do jogador tenta, a todo custo, esvaziar o processo. Requereu o arquivamento da investigação policial e ingressou com um Habeas Corpus no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O pedido inclui a anulação de todas as decisões tomadas até aqui pela Justiça Estadual e o reconhecimento de que o foro competente seria a Justiça Federal do DF. Em outras palavras, um esforço jurídico claro para zerar o jogo.
Seja qual for o desfecho, o que já está evidente é o abismo ético que separa o discurso da prática no futebol brasileiro. O torcedor assiste atônito à banalização de um crime que atinge o coração do esporte — a confiança de que os resultados se definem dentro das quatro linhas. Enquanto isso, Bruno Henrique continua sendo escalado, ovacionado e blindado, como se ser investigado por fraude fosse apenas um detalhe incômodo no currículo de um ídolo.