Opinião

Associação entra no IPHAN para mudar sem consulta o nome da Fonte do Buraquinho e revolta a comunidade de Vila de Abrantes

Tudo começa com o aparecimento de uma associação que se instalou recentemente na comunidade da Fonte da Caixa, e tem revoltado nativo e moradores que conheceram e passaram admirar a rica história de Abrantes.

Em documento protocolado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), um dos associados pede ao órgão, o tombamento do local antigo e tradicional da comunidade de Abrantes, conhecido pelos antepassados como Fonte do Buraquinho, ao qual, o associado se referiu pelas suas intenções de fonte das lavadeiras.

A comunidade se mobilizou, e já se posicionou contra a usurpação de sua história. As mobilizações já levaram autoridades estaduais e municipais, ativistas contrários aos métodos que se vem conduzindo o assunto, a Associação Emancipalista do Distrito de Abrantes, e a Associação Progresso de Abrantes, que tem o título de mais antiga da Orla de Camaçari, juntaram-se e fizeram coro de revolta aos atos de um forasteiro.

Segundo o narrador do pedido ao IPHAN, a área da Fonte tem ancestralidade com religiões de matrizes africanas, que não condiz com a verdade, pois a área antes das ocupações de moradias era um charco e a mata fechada das dunas, só restando a fonte que abastecia de água à Abrantes antes da vinda da Embasa. Se buscarmos a lógica, a fonte era um local público, e todos nós sabemos como eram conduzidas as religiosidades no passado distante; prova viva é que temos incidência de Quilombos na Cordoaria e água Fria, bem distante do público que iam constantemente ao local.

Um termo citado pela associação é de chamar as lavadeiras que iam lavar suas roupas no Buraquinho, de “ganhadeiras”, nome popularmente justo dado as lavadeiras do bairro de Itapoã, que viviam da atividade. Aqui em Abrantes, poucas lavavam de ganho, a maioria se limitavam as roupas de seus familiares, e nos dias de hoje estão aparecendo mulheres de fora que nunca bebeu água da Fonte. Ou seja, querem copiar um projeto lindo, só que aqui é projetado encima de suposições e interesses diversos.

Emerson Sales, nativo de Abrantes, ver com tristeza esta tentativa de “destruir” uma rica história do Distrito de Abrantes. A Fonte do Buraquinho matou a sede do povo abrantense numa grande seca na década de 80. Como nativo, cresci carregando água desta Fonte. A quem interessa mudar o nome? A quem interessa “destruir” esta história? Vejo como oportunismo esta situação. É preciso respeitar a nossa história e nosso povo. Espero que as autoridades competentes não permitam este “crime”.

O historiador José Fernando, grande defensor da preservação e divulgação da história de Abrantes citou: “Abrantes tem quase 500 anos de existência, e é muito triste quando pessoas que não conhecem a história, ficam acrescentando coisas erradamente, e isso prejudica as futuras gerações que quer saber verdadeiramente a verdade sobre o histórico dessa cidade que tem a raiz da nossa Bahia e do Brasil. Uma região que nós temos o orgulho e autoestima de dizer a todos temos aqui a história viva; como a Fonte do Buraquinho, que é um local histórico, medieval, pois faz parte das obras da natureza como as dunas. Agora, pessoas novas, ficam acrescentando coisas que não condiz com a verdade. Nós não aceitamos essa versão difundida por essa associação, pois compromete as futuras gerações com uma falsa história, por que o Buraquinho é um símbolo de resistência de um povo, independente de cor, raça ou religião”.

Até esse exato momento, o responsável pela associação só tem emitido comentários nas redes sociais e uma matéria em um site partidário, acusando injustamente o Presidente da Associação Emancipalista do Distrito de Abrantes, Hilário Lisboa sob a acusação de intolerância religiosa, desviando as atenções do verdadeiro tema, que é a usurpação da história de Abrantes e apropriação de áreas de preservação.

Vale lembrar que etnias e tradições conduzem a materialidade dos fatos e levam a comprovação da verdade. E quem não se habilita a dispor de ancestralidade deve buscar seus ninhos; que passa distante da beleza e majestosa história das terras chamadas de Abrantes.

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