Opinião

Bebê morto por pitbull em Pernambuco destaca a urgência de regras mais rígidas para criação de cães perigosos

Na tarde desta segunda-feira (14), um bebê de três meses, identificado como Lucas Levi dos Santos, morreu após ser atacado por um pitbull no bairro Capibaribe, em São Lourenço da Mata, região metropolitana do Recife. O incidente, que teve como vítima uma criança indefesa, é uma triste lembrança das consequências de um problema ainda pouco abordado em nossa sociedade: a convivência insegura entre cães de raças potencialmente perigosas e a falta de supervisão adequada em lares que têm crianças.

Para entender melhor as causas desse tipo de tragédia, conversamos com o especialista em comportamento animal e segurança pública, Dr. Marcos Alves, que atua há mais de 20 anos na área de adestramento e treinamento de cães. Durante a entrevista, ele apontou que a morte do bebê é um reflexo de falhas tanto na responsabilidade dos tutores de animais quanto na falta de políticas públicas eficazes para garantir a segurança nas residências.

“Infelizmente, este não é um caso isolado. Cães da raça pitbull, como o envolvido na tragédia de São Lourenço da Mata, têm uma força considerável e instintos territoriais muito fortes. Mesmo sendo animais, muitas vezes, bem alimentados e cuidados, sem uma supervisão constante e sem treinamento adequado, eles podem se tornar uma ameaça, principalmente para crianças pequenas”, explica Dr. Marcos Alves.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2024, o Brasil registrou 13 ataques de cães entre adultos e crianças, 6 foram a óbito. Isso é um alerta claro de que a convivência com cães de raças tidas como perigosas exige mais do que cuidados básicos — exige conhecimento, treinamento e medidas preventivas rigorosas.

O episódio de São Lourenço da Mata, onde a cuidadora do bebê tentou se interpor entre o cachorro e a criança, evidencia a dificuldade de lidar com cães com grande porte, como o pitbull, que, em situações de ataque, podem ser extremamente agressivos. A cuidadora, que havia assumido a responsabilidade por essa criança pela primeira vez, tentou impedir o ataque, mas acabou ferida na luta corporal. No entanto, a situação se agravou de tal forma que o bebê não resistiu às múltiplas lesões causadas pelo animal.

Para especialistas como Dr. Alves, a tragédia também está relacionada à falta de regulamentação e fiscalização de cães considerados de alto risco. “A legislação sobre o controle de raças perigosas no Brasil ainda é muito vaga. Existem algumas regras municipais, mas elas não são cumpridas com a rigorosidade necessária. Não há, por exemplo, exigência de que esses cães passem por treinamentos específicos ou que os tutores se responsabilizem por medidas de segurança rigorosas dentro de suas casas”, diz o especialista.

O que precisamos aprender com tragédias como essa?

Não podemos mais permitir que histórias como a de Lucas Levi se repitam. O fato de um bebê de três meses ter perdido a vida em um ataque de cachorro em sua própria casa é um reflexo direto da falta de políticas públicas eficazes sobre o controle de cães de raças perigosas. A tragédia não foi apenas uma fatalidade — foi um erro sistemático que envolve negligência, tanto de parte dos tutores do animal quanto do poder público, que ainda não age de forma eficaz para regulamentar a convivência de cães agressivos com crianças.

É inadmissível que casos como este continuem acontecendo, quando há recursos e conhecimento suficiente para impedir que tragédias desse porte se repitam. Precisamos urgentemente de uma legislação mais rigorosa, que obrigue os tutores de cães potencialmente perigosos a seguir normas de segurança e treinamento. Além disso, é fundamental que os programas de conscientização sobre a responsabilidade no cuidado desses animais sejam intensificados. A dor dessa família é irreparável, mas não podemos permitir que a dor de outras famílias seja causada pela inércia e pela falta de ação de todos nós.

A tragédia de São Lourenço da Mata é um grito de alerta para a sociedade e, mais ainda, para as autoridades públicas. A segurança das nossas crianças não pode ser colocada em risco por uma convivência irresponsável com cães agressivos. Já passou da hora de tomarmos as medidas necessárias para evitar que mais vidas sejam ceifadas dessa forma brutal e evitável.

OrlaNews

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