40 anos sem Vinícius de Moraes faz artistas e admiradores enaltecer a vasta obra deixada pelo poeta
há exatos 40 anos, no dia 9 de julho de 1980, aos 66 anos de idade falecia Vinícius de Moraes, gigante que respondia pelo apelido em diminutivo de Poetinha.
Celebrado na academia de letra, nas aulas de literatura, nas rodas de amigos, nas emissoras de rádio, nos bares, no café da manhã e na boemia, o compositor se destacou por tecer em suas composições uma linguagem poética e e melodias abstratas com um sotaque popular.
Para relembrar os bons tempos da verdadeira música popular brasileira, a produtora cultural Gilda Matoso, de 68 anos, viúva de Vinícius de Moraes, organiza o evento, que começa às 19h, no canal dela no youtube, contará com nomes como Toquinho, Gilberto Gil, Maria Creuza e Mariana de Moraes, Cynara (Quarteto em Si), e os poetas Marcel Powell, Antonio Cícero, Geraldo Carneiro e o ator Aloísio de Abreu.
Cada artista vai escolher algo para cantar e conversar sobre ele. “Eu fico abismada. Tanta gente que não era nem nascida na época é muito fã dele. É uma obra eterna. A obra é verdadeira, rebuscada e ao mesmo tempo tão popular”, disse. Gilda Mattoso.
Vinicius de Moraes foi compositor plural, capaz inclusive de criar belas melodias, como atestaram obras-primas em que o poeta fez sozinho música e letra, como Serenata do adeus (1958), e a valsa Pela luz dos olhos teus (1960). “Fosse um só, teria sido Viniciu de Moral”,
A música mais lembrada pelos baianos é “Tarde em Itapoan”, letra do Vinicius de Moraes e musica de Toquinho, que explica a criação da música: “Tínhamos feito quase três músicas quando Vinicius fez a letra de “Tarde em Itapoan”, e ia dar para o Caymmi musicar, porque não tinha ainda confiança em mim. Isso eu imagino, ele nunca me falou.
Mas eu queria de todo jeito musicar aquela letra. Na época, não havia ainda computador, tudo era datilografado. Eu via Vinicius escrevendo aqueles versos há dias. Para conseguir meu intento, sem falar com Vinicius, peguei a folha da máquina de escrever e vim para São Paulo resolver uns negócios.
Sabia a responsabilidade que tinha em mãos e demorei muito tempo pra concluir a melodia sem mexer numa sílaba sequer do texto original. Deu no que deu: um dos maiores sucessos da música brasileira registrado na alma de todo brasileiro. Parece que Vinicius letrou a música.
Voltei para Bahia depois de três dias, com o poema e a música pronta. Vinicius ficou ouvindo um tempão a música, e não falava nada. Ficava ouvindo no gravador, quieto, fumando, meio indeciso, tentando não se convencer. E o pessoal já começava a cantar na casa. Aí, ele me chamou e me disse que não ia dar mais para o Caymmi. Foi nessa que ganhei o poeta! É um poema todo lindo, tanto que eu não mexi uma vírgula dessa letra, não mudamos uma palavra. É difícil conservar uma letra inteira, perfeita como essa. Ela tem uma beleza grandiosa na riqueza dos detalhes. É uma música completa. Do meu repertório com Vinicius, é uma das que mais gosto. Nunca deixei de cantá-la em nenhum show. As pessoas gostam, cantam, fica uma harmonia religiosa no show. Quanto mais o tempo passa, quando canto essa música, as pessoas aplaudem na introdução. Depois que eu fiz essa melodia, o Vinicius me deu um voto de confiança”.